Quem nunca precisou ser uma pessoa boazinha na vida em algum momento?
É duro ter de admitir que precisamos entrar no jogo da submissão e falsidade em pontuais situações. Talvez por isso seja mais fácil acusar os outros: isso é uma forma de esconder o mesmo problema sofrido. Afinal, é bom reconhecer a si mesmo como superior momentaneamente, com vaga ilusão de que nosso problema está superado se comparado ao da outra pessoa em foco.
É um desafio conviver e aturar nossa própria falsidade (não adianta negar: você já foi SIM uma pessoa falsa em diversos momentos de sua vida).
Passamos a vida nos prostrando para os outros. A ética e a sociedade exigem essas condutas do controle próprio que é comumente chamado de “falsidade”, dependendo do ponto de vista.
Como exemplo, veja esta cena do anime original Netflix, Aggretsuko:
(para assistir à série na Netflix, clique aqui)
O comportamento dos amigos de Retsuko é um exemplo perfeito de contraste extremo. Criticar em um caso assim nos faz sentir superiores, como se aquilo não existisse em nós.
Até chega a parecer que ambos são super resolvidos, e que não sofrem desse mal. Mas trata-se apenas de uma ilusão de resolução.
Veja os mesmos comportamentos de falsidade e covardia da Fenneko, que parecia ser tão sincera e verdadeira o tempo todo:
A base do bullying é atacar no outro o que machuca em nós em algum nível (geralmente é inconsciente). Afinal, se não nos machucasse, seria apenas uma indiferença e não nos importaríamos.
Dessa mesma forma, muita gente ignora a depressão como sendo algo sem importância pela qual passaria sozinho (como se apenas o tempo já curasse) e, mesmo vendo a outra pessoa sofrendo, consegue não estender a mão e simplesmente ignora a dor alheia.
Por que neste caso da primeira cena eles simplesmente não ignoraram a dor de Retsuko?
Indice
O dilema da falsidade machuca todo mundo, e ver isso em outra pessoa tão claramente (e exagerado, da forma como é com Retsuko) motiva a encher o saco dela dizendo verdades na cara (tendendo ao maldoso, agressivo).
O motivo de ela criticar Retsuko tão fervorosamente é porque, ao ter isso em si própria, também sente raiva profunda sem saber como atacar o próprio problema, já que nunca queremos ver estes defeitos em nós mesmos. Ao direcionarmos as críticas para outra pessoa, conseguimos atacar essa dor própria sem culpa de ser visto como uma pessoa fraca ou falsa. Passamos a ver nosso próprio algoz no outro.
Assim como a protagonista, nós também criamos e alimentamos monstros ao fazer isso. Quando mais ela estoura sozinha, mais ela acumula rancor, até que chega ao ponto de ser tanto este acúmulo que, ao liberar para os outros, acaba sendo de forma exagerada. Por isso que vemos aqueles tristes casos onde estudantes entram em escolas com armas e saem matando a todos: eles nutriram internamente muita dor, e a falta de coragem de combater no momento certo levou-os a encarar explosivamente, criando neles uma motivação (negativa) que os levaram a fazer algo que poucos teriam coragem.
Veja como Retsuko acaba estourando de forma passiva ao finalmente enfrentar uma colega aproveitadora:
O sentimento posterior de Retsuko foi de extremo alivio, mesmo tendo medo das consequências que iriam vir daquela atitude.
No caso dela, o cansaço era tão grande que simplesmente “saiu” (ainda que de forma bem doce e controlada), mas todos se assustam porque aquela atitude não é o comum dela.
Talvez estejamos precisando refletir sobre os nossos próprios limites e avaliar se não estamos acumulando rancores demais e criando um monstro interno. Por mais que muitos prefiram ser vistos como uma pessoa boazinha, às vezes dizer certas verdades é necessário para nossa saúde psicológica.
De forma dosada e consciente, claro.
Sinopse 1: Sem perspectivas na carreira e sem vida pessoal, ela apela para seu único consolo: heavy metal em um karaokê.
Sinopse 2: Frustrada com o emprego, Retsuko, a panda vermelha, encara a luta diária cantando heavy metal em um karaokê depois do expediente.
Idioma: dublado (com opção de áudio original em japonês com legendas em português);
Total de episódios (na data deste post): 1 temporada com 10 episódios de 15 minutos cada;
Classificação etária: 12 anos;
Ano de lançamento: 2018;
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De acordo com o site oficial: Fenneko e Retsuko entraram no mesmo dia na empresa e sentem o mesmo tipo de agonia com relação aos superiores.
Porém isso é fachada, pois Retsuko sabe que Fenneko fala pelas costas dela.
Apesar da Fenneko não ser tão má assim.
Se for para pensar a atitude da Fenneko tentar empurrar o Haida para ir atrás da Retsuko estava errada.
Afinal, a Retsuko não tem nenhum interesse por ele e geralmente o evita por causa dessa atitude impulsiva que ele tem.
Basta ver episódio 8 em que ela deu um golpe bem dado na nuca dele para fazer que esqueça a briga que teve com o diretor Ton.
O karaoke é a melhor forma para Retsuko botar pra for a raiva e se acalmar.
Por isso que ela se recusa a deixar que saibam de seu segredo para não fazerem comentários em momentos inoportunos em que sofre abuso.