Longas e Curta-metragens

Anima Netflix (2019): Explicação e teorias do musical (com SPOILER)

O filme Netflix Anima, estrelado pelo vocalista da banda Radiohead, Thom Yorke, está mais para um clipe longo do que para um filme curto (assista aqui).

No primeiro minuto do filme Netflix Anima as pessoas menos acostumadas a performances teatrais podem achar tudo muito estranho: passageiros cansados de um dia de trabalho, dentro de um metrô, começam a fazer uma coreografia que expressa um profundo cansaço ou até mesmo tédio da vida.

O musical Netflix Anima é um filme mudo

Até para quem acha Anima estranho no início, fica fácil depois de dois ou três minutos se conectar com o personagem, graças ao compasso ritmado dos sons e da imagem. De fato, esta obra do diretor Paul Thomas Anderson e de Thom Yorke é como um clipe estendido, com músicas que podem ser chamas de, no mínimo, psicodélicas (inclusive, eles já trabalharam juntos antes em clipes da banda).

Os gestos que vemos nos dançarinos devem ser mais sentidos do que interpretados, já que para cada pessoa aquilo tudo pode ter um significado bem diferente. Ainda assim, é possível interpretar ou explicar o filme Anima, de Thom Yorke.

Mesmo com o filme Netflix Anima não possuindo uma narrativa propriamente dita (não há uma narrativa convencional, com diálogos e cenas de simples compreensão), ainda dá para enxergar nesses 15 minutos uma história completa, mesmo que confusa, das lutas e conquistas de um ser humano.

Explicação do musical Anima Netflix (com spoiler)

O protagonista de Anima Netflix é o próprio Thom Yorke. Como trata-se de um filme mudo, não temos como saber o nome do personagem nem seus pensamentos. E é isso que faz com que tudo seja tão subjetivo e dê margens a interpretações.

Tudo começa com ele dentro de um metrô, cheio de passageiros adormecidos. Ele próprio também está quase adormecendo quando se depara com uma moça que lhe desperta o interesse (Dajana Roncione). O que vem a seguir é uma debandada de pessoas, todas vestidas da mesma forma, mostrando-nos a rotina maçante de trabalho do dia a dia, que tira-nos a cor e o sabor da vida.

O personagem de Thom Yorke vê que ela se esqueceu da maleta de trabalho, e ele enxerga nisso uma oportunidade de vê-la novamente. É aí que cria-se o grande objetivo do protagonista do curta-metragem Netflix Anima.

O protagonista, em meio a multidão, não consegue passar pela catraca e perde seu interesse amoroso de vista ao mesmo tempo em que perde a maleta (a propósito, essa atriz italiana é a atual namorada de Yorke – na vida real, não no filme Anima).

A música que toca nessa parte (“Not The News”, do próprio Thom Yorke) questiona “quem são essas pessoas?”, mostrando nosso constante afastamento da sociedade e falta de conexão com outros seres humanos.

Um dos motivos que faz o filme/musical Netflix Anima bater fundo e incomodar é porque fala diretamente com nossa alma. Talvez venha daí o nome “anima”.

Enquanto essas pessoas cinzentas vão passando pelo protagonista, vemos que nenhuma delas dá atenção ao homem que não consegue transpor as barreiras. É o sentimento comum presente em todos nós de “não é problema meu, então vou seguir meu caminho”.

Somente essa pequena cena do musical Netflix Anima já diz muito sobre nós como seres humanos e como sociedade. Um rebanho de sonâmbulos alienados em seus próprios problemas e interesses, incapazes de enxergarem as dificuldades do próximo.

O mundo corporativo no musical Anima Netflix

Em seguida, ele é jogado para fora da estação, caindo no “buraco do coelho”: uma analogia de ida sem volta. É ali que as cenas do musical Netflix Anima começam a ficar ainda mais oníricas: Thom Yorke se vê em uma situação de desequilíbrio, novamente com essas pessoas monótonas e uniformizadas bloqueando seu caminho e impedindo-o de pegar a maleta (que representa seu desejo de rever a moça do metrô).

Nessa parte estamos ouvindo a música “Traffic” (também de Thom Yorke), e a própria letra, somada à coreografia, nos revela do que se trata: o mundo corporativo, que nos transforma em zumbis que comem dinheiro, onde não se pode respirar.

No sentido mais lógico e menos psicodélico da história, podemos entender que o protagonista foi afastado de seu interesse amoroso por conta dessa vida de trabalhador, onde é tão difícil de encontrar equilíbrio individual e amoroso. Ele entrou na dança arrastado (literalmente), e por um momento a maleta foi chutada de lado, o que significa que o personagem se distraiu do objetivo romântico para voltar-se para outras coisas (aqui, pense o que quiser: o que se pode comprar quando se tem dinheiro? Sua imaginação é o limite).

Os papéis esvoaçantes da cena seguinte são jornais: notícias antigas, inúteis. Ou também pode significar excesso de informações nos dias de hoje que, por serem tantas, sequer conseguimos acompanhar. Isso gera em cada um de nós uma cobrança interna sem que notemos (“tenho que estar atualizada/o”, “tenho que saber das novidades”, etc).

A propósito, essa cena foi filmada em uma superfície inclinada para que aqueles efeitos fossem possíveis. Pelo fato de a câmera estar alinhada com o chão torto, a impressão que dá é que os atores estão sendo suspensos por cabos. Mas não estão. É tudo uma questão de ilusão de ótica e brincadeiras com câmeras.

Interpretações de Anima Netflix de Thom Yorke (SPOILER)

Na parte final do filme musical Anima Netflix ouvimos a música Dawn Chorus (de Thom Yorke, como você deve ter adivinhado), que tem uma letra que mais se assemelha a um sonho em uma sequência de frases que não se encaixam muito entre si, mas fazem sentido em nosso coração.

É quando o protagonista vivido por Thom Yorke reencontra Dajana Roncione, a moça do metrô. Nessa parte, a maleta nem importa mais, pois o único objetivo do objeto era criar um link entre os dois. Vemos uma sequência de dança deles que pode significar os altos e baixos de um casal e, ao final, talvez isso tudo tivesse sido apenas um sonho do protagonista.

Como pode ver, tudo aqui é muito subjetivo, e fala diretamente com o coração das pessoas. É por isso que não há diálogos: para que cada um de nós tomemos nossas próprias conclusões a respeito do que significam as cenas e as coreografias. Apesar disso, espero que essa minha interpretação da história tenha ajudado você a ver o clipe Anima, de Thom Yorke, de outra maneira.

E caso você tenha entendido diferente, compartilhe nos comentários abaixo para que mais ideias sejam acrescentadas a esse baú tão único e especial que são nossas interpretações do coração.

Músicas de Anima Netflix, de Thom Yorke (Radiohead)

Ao longo do filme/musical Netflix Anima, Thom Yorke (mais conhecido por ser vocalista da banda Radiohead) apresentou três músicas do álbum de mesmo nome (que você pode ouvir neste link pelo Spotify).

Cada uma das três músicas tem ritmos diferentes, e letras que muito se conectam com a história contada pelos bailarinos e atores. São elas:

Not The News, Thom Yorke, Anima;
Traffic, Thom Yorke, Anima;
Dawn Chorus, Thom Yorke, Anima;

Deixe seus comentários abaixo sobre o que achou do musical Anima Netflix. Conte como interpretou a história.

Sinopse e Ficha Técnica do musical Anima Netflix

Lançamento Netflix: 27 de junho de 2019;

Direção e roteiro: Paul Thomas Anderson;

Sinopse Netflix: Neste curta musical dirigido por Paul Thomas Anderson, Thom Yorke, do Radiohead, compõe e estrela um vídeo de visual estonteante. É melhor deixar o som bem alto.

Duração: 15 minutos;

País de Origem: Reino Unido;

Classificação etária: 10 anos;

Ano de lançamento: 2019;

Gênero: Musical, Drama, Clipe.

Você também poderá se interessar por O Escolhido, Shaft, Funcionário dos Céus, Dark, The Confession Tapes e Chefe de Gabinete.

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Nantai

Escritora, ilustradora e taróloga autodidata, Nantai procura reavivar a centelha de magia que todos temos. Gosta de montanhas, gatos, e de escrever ao som da chuva. www.bcrausnantai.com

Ver comentarios

  • Adorei seu texto :) Obrigada! Te mandaria a coreografia mas ainda não ensaiei bem.

  • Minha esposa teve uma visão diferente, eu pensei tudo isto, das lutas da vida, todos sendo iguais, mas o personagem tentando fazer diferente. Ela pensou que o ator viu todas as pessoas no trem, e viu aquela mulher bonita, e começou imaginar e sonhar uma vida diferente da sua, ele lutando para encontrá-la, seu romance como seria com ela, a vida dos dois, encontros e desencontros, mas no final ele acorda no trem e volta ao seu cotidiano, dormindo no trem, como no começo.

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