Confesso que não dei muita bola para “As Lendas” (assista aqui), quando a Netflix lançou essa animação original. Julguei que fosse algo muito infantil, daqueles desenhos educativos ensinando curiosidades através de episódios não sequenciais (um dos motivos para eu ter essa ideia errônea foi a presença de “As Lendas” nos Especiais de Parabéns da Netflix).
Toda cética, pensei “Ok, vamos lá”, e logo no início vi uma interessante cena de suspense (já gostei por aí):
Noite escura… ninguém na rua a não ser um aldeão aparentemente alcoólatra. Ele ouve um barulho… Um vaso se espatifa no chão. Ele olha, e dá de ombros. No mesmo instante uma gosma verde cai em seu braço. “Mas o quê…”, e um macaco endemoniado o ataca.
Ninguém sabe, ninguém viu…
Após isso, a tela escurece e somos apresentados ao protagonista, Leo. E, como (quase) todo protagonista tem que ter algo que o torne singular, notamos logo de cara que ele é um exímio médium, pois pode ver e se comunicar com espíritos.
Dom Andreas (o amigo fantasma) surge no meio de um jogo, e insiste para que Leo o ajude com os livros. Essa é a primeira pista que temos do grande desafio que será enfrentado, mas como é dito tão casualmente acabei por não dar muita bola.
“Um poder maligno surgiu, e eu preciso consultar os meus livros”
Uma coisa me chamou bastante a atenção: é o que Dom Andreas comenta, sobre ter feito um tremendo esforço para retirar um livro da prateleira, e agora ele não tem forças para virar as páginas. Isso tem um efeito bem cômico, mas como espírita fiz uma interessante associação: é fato que alguns espíritos conseguem animar a matéria, mas para isso, precisam de certas circunstâncias (e em alguns casos, precisam de grande esforço mesmo para coisas pequenas, já que no mundo espiritual o peso como conhecemos é relativo).
Com essa cena, além de conhecermos um dos personagens cômicos da série, acabamos sendo levemente introduzidos ao problema que terá que ser enfrentado mais para frente.
Indice
Nesta introdução, com as cenas do jogo, percebi (mesmo sem ter lido sinopse) que esta história se passa no século 19, e isso porque ainda não existia o futebol como o conhecemos hoje (Leo chamou de “pernobol”). O curioso é que nesta época a Espanha e suas colônias (como o México, palco de As Lendas) estavam sofrendo com a Inquisição Espanhola.
Apesar de Leo também sofrer um pouco com esse tratamento diferente (já que ele é frequentemente pego falando “sozinho”), a agressividade maior vai para cima dela, já que é nova na área e ninguém a conhece de fato.
E… Claro que nosso protagonista está caidinho por ela! 😀
Sempre gosto quando percebo o momento de uma recusa do chamado do Herói. E aqui, em As Lendas, isso fica bem claro.
Alebrije, um dos amigos fantásticos de Leo (baseado em uma criatura lendária mexicana) dá um interessante conselho ao dizer que “Não se pode escolher ser normal, o mundo nos vê como somos na realidade” (a ironia é que imediatamente após isso a avó de Leo abre a porta e pergunta “o que esse bode está fazendo aí?”, sendo que Alebrije originalmente não tem a forma de nenhum animal em específico).
Não demora muito para que aquela introdução do pequeno macaco do início seja retomada. A partir daqui, quando os interesses de Leo são afetados, ele entende (finalmente!) a gravidade da situação e aceita o chamado sem pestanejar – afinal, sua avó e toda a vila desapareceram e, consequentemente, todo o mundo da forma como ele conhece também está por um fio.
Falando em destruir o mundo, achei a motivação do vilão interessante: ele é uma espécie de “deus da criação”, mas aparentemente se cansou (ou se irritou) com tudo e quer recomeçar.
Em outras palavras, ele está dando um grande “reset”, e Leo frustrou sua primeira investida.
Sinopse 1: Leo, do século 19, só quer levar uma vida normal. Mas sua quedinha pelo sobrenatural ainda pode salvar o mundo.
Sinopse 2: Quando uma força do mal ameaça sua cidade, um jovem que conversa com espíritos aproveita sua habilidade para enfrentar uma série de monstros lendários.
Quantos episódios assisti: Somente o primeiro (mas pretendo ver o restante, pois gostei demais).
Total de episódios (na data deste post): 1 temporada com 13 episódios de 25 minutos cada.
O que MAIS gostei nesse início: O bom humor apresentado pelos personagens foi muito agradável. Eles têm maneiras diferentes de lidar com a mesma situação, e isso é um sinal de que podem vir a ter um desenvolvimento ainda melhor nos episódios futuros.
Outra coisa que gostei bastante foi do desenrolar da trama, nos mostrando os pontos positivos e negativos de Leo – o que faz com que nos identifiquemos com ele de cara.
Eu comentei acima algumas vezes sobre Jornada do Herói, e isso foi porque este primeiro episódio apresentou todos os passos da Jornada (e eu amo esse conceito). O que eu imaginei que fosse um desenho bobo para crianças se provou uma verdadeira história de fantasia e aventura, apresentada de forma a não subestimar a inteligência do telespectador.
O que MENOS gostei neste início: Não houve nada que eu não tenha gostado.
O rumo que imagino que a série terá: De acordo com a Sinopse 2, aparentemente eles vão viajar por diversos lugares no intuito de salvar o vilarejo e os moradores (e derrotar o vilão), e com isso é provável que encontrem diversas criaturas de lendas conhecidas. Daí o título da animação: As Lendas.
Como Quetzalcoatl realmente é uma lenda existente, provavelmente os episódios estarão recheados de easter eggs e referências culturais (tal como as caveiras mexicanas, que apareceram no início e no final, mas não interagiram com ninguém, apenas agem como espíritos do acaso).
Classificação etária e público: Livre. É para todas as idades. Reúna a família diante da televisão e divirta-se!
Ano de lançamento: 2017;
Gênero: animação, aventura, fantasia.
Você assistiu A Lenda, da Netflix? Gostaria de compartilhar conosco o que achou? Deixe nos comentários suas primeiras (segundas e terceiras) impressões! ❤
Ver comentarios
Assisti a animação e confesso que me surpreendi. Imaginava algo completamente diferente, talvez uma releitura de Simbad maluca ou uma liga estraordinaria com o fantasma de Dom Quixote, mas na verdade me deparei com uma boa animação original e motivante do primeiro ao último episódio.
Tudo na medida certa, sem barrigas, feito para você se divertir com o humor pastelão, cheio de referências a histórias folclóricas e cultura pop. A graça de cada aventura era tentar adivinhar qual seria a história principal e isso realmente me motivava, imaginando se acertaria a história que eles estavam contando.
Tive a mesma impressão quando vi a animação Hilda, também na Netflix, cujo as duas me deixaram com gostinho de quero mais.