A Netflix lançou em seu catálogo o show e documentário Derren Brown Miracle: Faith or Fiction (traduzido livremente como “O milagre de Derren Brown: fé ou ficção”) que você pode assistir neste link. Isso me chamou muito a atenção porque Derren Brown é um mentalista que trabalha muito com Behaviorismo. Meu primeiro contato com este termo “Mentalista” foi quando li o livro “O Mentalista” de Thorsten Havener, e a partir daí se instalou em mim um fascínio por esta prática.
Logo no inicio desse show exclusivo da Netflix, o mentalista Derren Brown apresenta um rápido vídeo falando sobre o tempo, e a forma como tendemos a viver pensando sempre nos objetivos, ou seja, no final. E com isso nos esquecemos de aproveitar o agora. Ele chega a fazer uma comparação com uma música: quando ouvimos algo que gostamos, não nos apressamos a chegar no final, e sim aproveitamos cada nota, cada momento – tal como deveria ser nossa vida. Isso me arrepiou.
Indice
A ideia de parar e tentar controlar por si só a “mente de macaco” é um enorme desafio (o termo “Mente de macaco” é muito usado por psicólogos para definir a vontade própria da mente em ficar pulando de um pensamento para o outro automaticamente, principalmente quando estamos relaxados).
Dentre as muitas formas que conheço, em geral a meditação padrão exige uma energia canalizada. Tanto na motivação e disciplina para iniciá-la, quanto na própria execução. É um trabalho ativo que exige muito de nós, e está bem longe de ser um conforto mental, ou um simples “relaxamento”. Podemos, inclusive, dizer que a meditação tradicional é uma musculação da mente. Por isso acredito piamente que, se fossem desenvolvidas técnicas para usar o “Flow” que a música proporciona como entrada para níveis difíceis de nossa mente, nosso desenvolvimento seria revolucionário.
Esse show mescla muitas coisas, e uma delas são as mensagens motivacionais profundas. O apresentador, inclusive, é provocativo com relação ao conceito de Deus e, se considerando ateu, se arrisca a tentar fazer o Deus da igreja funcionar ali. Ele tenta demonstrar o quanto delegamos nosso poder à ideia de milagres, igrejas, gurus ou coisas externas a nós. Muita gente acha que é prepotência ver a si mesmo como “poderoso”, ou como responsável por algum milagre. Pode sentir-se envergonhado em se considerar poderoso. O cadeado de uma cura pode ter a chave em nós mesmos.
Tudo isso se relaciona com as histórias que contamos a nós mesmos. Deuses ou gurus não mudam as pessoas, mas eles te convencem a mudar sua visão de você mesmo sobre algo. A capacidade da fé, em qualquer que seja o propósito, é muito poderosa. Tem gente que passa a ter forças porque colocou sua fé em Deus, e sente Ele falando consigo. Isso poderia ser comparável a crianças que criam amigos imaginários e muitos acabam com a solidão ou até com algum tipo de trauma pela fé em sua existência. Por isso é seguro afirmar que: nada disso é falso. Não duvido de nenhum tipo de fé, pois se alguém acredita, ela funciona ao menos para ele e poderia sim vir a funcionar para outro, tudo depende do quão persuasiva a ideia da fé será a outro ser. Até a fé na cura é importante.
Achei significativo demais Derren afirmar que “as histórias que contamos a nós mesmos é o que proporciona os milagres”. Ele entra em um momento reflexivo de sua apresentação que vale muito a pena que veja por si mesmo. Este trecho está aproximadamente entre o tempo 1h03min e 1h07min do vídeo. Veja abaixo a transcrição:
O milagre aqui não é o poder de cura do Senhor, ou truques de magina ou pessoas flutuando no ar. O milagre é o fato de uma vida inteira de dor crônica poder desaparecer em um instante quando contamos uma história diferente para nós mesmos.
No momento que você aceita a ideia de que a cura pode estar se movendo pela sala esses sintomas podem simplesmente ir embora. Isso é tão mais bonito e significativo pra mim porque não é sobre o poder de Deus. É sobre o nosso poder como seres humanos, então é real. Isso é um milagre.
Aqui há outro milagre: o fato de estarem sentados aí, agora. O fato que são vocês especificamente que estão sentados ai. Que “vocês são vocês” em vez de serem outras pessoas, outras variações de DNA. Quais as chances de vocês existirem? O que isso significa? O que é isso? Um dos 12 trilhões de espermatozoide do seu pai (com metade de seu nome nele) simplesmente colidiu com os milhares de óvulos da sua mãe (com sua outra metade de seu nome nele)… E isso é só os seus pais gerando você! Tinha que ser especificamente seus avós gerando especificamente seus pais, também. Vocês têm de multiplicar essas probabilidades para todas as gerações de humanos ou humanoides.
Você está, sem duvida, em uma ponta da sua própria cadeia ancestral, perfeita e ininterrupta, que começa em você e vai até o primeiro organismo unicelular, há 7 bilhões de anos atrás. Isso é um milagre!
Podemos lembrar disso quando falamos pra nós mesmos que “estamos gordos” e que “a vida está ruim”. Esta é a vida e o corpo que temos. Podemos contar para nós mesmos uma outra história. Podemos ser mais gentis com a gente (com os outros também, porque estamos todos fazendo isso). Todos contamos a nós mesmos estas histórias prejudiciais. Cada pessoa que a gente encontra está carregada com sua própria caixa pesada.
Eu sei que é difícil lembrar de tudo isso quando a gente está tentando seguir em frente, ou terminar o dia. Chegar àquilo que a gente está tentando fazer. E eu acho que é importante de vez em quando, quando a gente se lembrar, parar o tempo na nossa mente e voltar para o momento presente, e para como estamos tratando a nós mesmos e aos outros, neste momento.
Porque é só o momento presente que tem o poder de ser totalmente envolvente. Rico e vibrante.
Como se este momento fosse o seu primeiro. Ou como se fosse seu ultimo.
Você é um milagre.
Este show não é de auto-ajuda. O que estou fazendo aqui é frisar pequenos pontos que me foram significativos, e que me tocaram profundamente. São os trechos que me fazem querer guardar na memória com carinho, e agregar em minha vida. Achei o show inteiro muito incrível, com muitas demonstrações mágicas (uma delas até de incomodar, quando uma espectadora é convidada a fazer algo considerado perigoso), mas o que mais me impactou mesmo foi a filosofia lançada sobre o tempo e histórias.
Para mim, resumiria a apresentação “Derren Brown Miracle: Faith or Fiction” como uma união entre filosofia, tempo e histórias.
Derren Brown Miracle também consegue ser bem provocativo ao recriar cenas comuns da igreja evangélica ao dizer que as coisas que são feitas lá é visando dinheiro, e que são técnicas psicológicas reforçadas com histórias persuasivas sem nenhum toque divino.
— Gatinho de Cheshire (…) Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
— Isso depende muito de para onde quer ir – responder o Gato.
— Para mim, acho que tanto faz… – disse a menina.
— Nesse caso, qualquer caminho serve – afirmou o Gato.
— … contanto que eu chegue a algum lugar – completou Alice, para se explicar melhor.
— Ah, mas com certeza você vai chegar, desde que caminhe bastante.Trecho de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll
Veja também o outro show dele: Derren Brown: Sacrifice.
Sinopse 1: Após anos de desconfiança, ele dominou a arte do pensamento mágico. Será que ele consegue que sua platéia faça o mesmo?
Sinopse 2: O ilusionista Derren Brown reinventa o conceito de “cura pela fé” por meio de uma série de ações que desafiam nossos medos, dores e descrenças;
Classificação etária: 10 anos;
Ano de lançamento: 2018;
Gênero: Show com platéia.
E você? Já assistiu ao novo original Netflix, Derren Brown Miracle? Conte para nós quais foram as sensações que sentiu ao ver, e o que você acha que essas ideias novas podem lhe proporcionar a partir de agora, em sua vida! 🙂
(video Abaixo é a transcrição em áudio do post acima)