Estrada Sem Lei é um filme que reforça algo já sabido: a Netflix gosta de dramas baseados em casos reais. Ainda mais se eles tiverem alguma repercussão. No caso, estamos falando da lendária caçada a Bonnie e Clyde, o casal de bandidos mais procurado da década de 30 nos Estados Unidos. Inúmeros filmes foram feitos sobre a dupla, alguns com mais, outros com menos sucesso. O importante é notar que, apesar de criminosos, eles continuam no imaginário popular americano (assista aqui).
Em Estrada Sem Lei, o foco está nos dois detetives que conseguiram encontrar Bonnie e Clyde e acabar com a escalada de terror que eles protagonizaram naqueles tempos. Além disso, o longa também encontra tempo para discutir uma mudança comportamental do americano. Seja na polícia ou na sociedade como um todo, os anos 30 foram de transição. O filme mostra isso sem qualquer sutileza. O resultado termina sendo mal equilibrado: ao mesmo tempo em que as imagens são bonitas de se ver, a temática praticamente exulta o autoritarismo.
Indice
O filme Netflix Estrada Sem Lei acompanha a busca em capturar Bonnie e Clyde, que entraram em ação logo em seguida da chamada Grande Depressão Americana, em 1929. Um desastre econômico de proporções mundiais. No vácuo de poder, eles começaram a agir para roubar bancos, e no caminho liquidar quem tentasse impedi-los. Diante da ineficácia da polícia em conseguir prendê-los, são chamados dois Texas Rangers veteranos. Para quem não sabe, essa força policial dominou a caça a bandidos no século anterior, mas naquele momento se encontrava em decadência.
Para a missão, são convocados pela governadora Ma Ferguson (Kathy Bates) os Rangers Frank Hamer (Kevin Costner) e BM “Manny” Gault (Woody Harrelson). Os dois passam a investigar os crimes de Bonnie e Clyde e a ficar no encalço da dupla, seguindo o rastro de crimes e sangue deixados pelos dois. Hamer é um veterano bruto, que usa métodos violentos para conseguir as informações que precisa. Gault é mais bonachão, mas bastante determinado a cumprir sua missão. Juntos, eles precisam impedir novos crimes, arriscando suas próprias vidas para impedir a dupla.
O filme promove uma espécie de volta ao passado, pois o retrato que faz dos anos 30 é bem fiel. Méritos para a fotografia e a direção de arte, que conseguem passar essa impressão de desolação e aridez em uma época triste nos Estados Unidos. Estrada Sem Lei parece uma fotografia antiga, quase apagada, em tons alaranjados. Nesse sentido, o filme teve um grande sucesso.
Além do mais, as atuações de Costner e Harrelson fazem o filme ter seus méritos. Cada um atua em sua zona de conforto: o primeiro está acostumado a tipos durões, que são capazes de qualquer coisa para atingir seus objetivos. O segundo faz o papel de “bom policial” que já vimos em outras produções estreladas por ele. “Três Anúncios Para Um Crime” é o exemplo mais recente. É aí que começam os problemas da produção: apesar de boas interpretações, são meras repetições do que os próprios atores já fizeram antes.
A maior falha de Estrada Sem Lei, certamente, está em seu roteiro. Basicamente, o filme vende a ideia de que o autoritarismo é o remédio para curar os males da sociedade. Não é à toa que Hamer, personagem de Kevin Costner, violenta até mesmo civis inocentes para arrancar informações que interessam para a sua investigação. E, ao invés de questionar esses métodos, o longa de John Lee Hancock os enaltece. Esse caminho, além de perigoso, é falho.
Na história, a mudança questionada é a entrada de uma polícia mais humana e profissional no lugar dos durões Texas Rangers. Estrada Sem Lei não deixa de mostrar o seu lado: para salvar as pessoas dos criminosos, os policiais podem agir como criminosos. É uma tentativa de emular a ideia de que a “masculinidade” das forças policiais acabou-se quando os Rangers se tornaram obsoletos. É uma linha narrativa complicada de defender, e acaba obscurecendo as outras qualidades do filme.
De fato, é uma pena. Estrada Sem Lei poderia ser um ótimo filme de perseguição policial. E para aqueles que não se importam com a mensagem nas entrelinhas, o filme de fato é. Costner e Harrelson são atores carismáticos e emprestam essa qualidade a seus papéis, mesmo que ambos sejam tão imorais quanto os bandidos que perseguem. Se o longa mostrasse o outro lado da moeda, escancarando e denunciando os métodos brutos dos policiais “das antigas”, certamente ganharia muito mais respeito.
Falamos um pouco mais sobre o filme neste artigo de Estrada Sem Lei. Confira também nossas resenhas sobre Traidores (que responde a pergunta: Feef Symonds realmente existiu?), e tem também as produções originais Netflix O Sabor das Margaridas, 15 de Agosto e a série Netflix que lembra Black Mirror: Osmosis.
Veja também uma crítica de Estrada Sem Lei em vídeo, do canal Cinco Tons:
Sinopse Netflix: Dois ex-policiais durões são encarregados de localizar e matar os famosos criminosos Bonnie e Clyde nesse drama policial baseado em fatos reais.
Duração: 2h 12min;
Classificação etária: 16 anos;
Ano de lançamento: 2019;