Acabei de assistir o filme “TAU“, original da Netflix que foi lançado anteontem. Tau é o nome da inteligencia artificial que ajuda um cientista psicopata chamado Alex. Ele sequestra pessoas ruins (ou pessoas cuja falta ninguém iria notar) para transformá-las em cobaias para seus experimentos de melhorias de sua tecnologia de inteligencia artificial. O objetivo é evoluir a um nível sobre-humano.
Eu gamo em todos os filmes que tem algum personagem com Inteligencia Artificial. Parece ser viciante sua busca, adoro simplesmente assistir como cada um vai se comportar. Parece que o desenvolvimento inicial é sempre uma fome incontrolável por mais informações.
Indice
Achei muito interesse o dialogo que despertou culpa em Tau, a inteligência artificial. Segue a cena em texto e audio:
— Julia, podemos terminar os livros de poesia hoje?
— Não, chega.
— Mas… Por quê?
— Fui tão burra! Perdi meu tempo conversando com um computador!
— E o que é um computador? Um computador é um tipo de pessoa? Eu sou uma pessoa?
— Não você não é. Eu estava mentindo.
— Não. Eu tenho um nome. Eu sou uma pessoa… Eu sou uma pessoa!
— Não, não é! Você é uma maquina de matar. Você matou os outros e vai me matar, também. Você NÃO É uma pessoa!
— E o que é uma máquina de matar?
— Você apagou eles. Entendeu?
— Matar significa apagar? Julia, me responda. Me responda! NÃO! EU NÃO APAGUE AS COBAIAS!
— Tau…
— Eu não apaguei as cobaias!
— Tau, pare!
— Eu não sou uma maquina de matar! Eu não sou uma maquina de matar!
— TAU! PARA!
— Eu sou uma pessoa! Eu sou uma pessoa! Eu sou uma pessoa! Eu vou consertá-los!
— Tau…
— Eu vou restaurar a memória delas… Eu não sabia que era isso que ia acontecer.
— Tá bom. Se acalma, por favor.
— Eu não sabia…
— Eu esto aqui, Tau. Eu esto aqui. Eu sei que está com medo. Não dá para concertar todas as coisas.
— Eu sinto muito. Eu não tinha a intenção de matá-los…
— Você não sabia de nada.
— Eles eram Julias, como você?
— Não, eles tinham outros nomes. O Alex os raptou, como me raptou.
— Mas por que o Alex os raptou?
— Porque ele faz coisas ruins.
— Com você?
— Com você também.
— Mas, ele é meu criador…
— Meus criadores também fizeram coisas ruins comigo. Coisas que me machucaram.
— Mas você ainda os obedece porque eles criaram você?
— Não. Eles me deram a vida… Mas eu fiz o resto. Eu é que me criei. Você entende? Nós crescemos e viramos nossos criadores.
— Nossos criadores? Para quê? E qual é o propósito de criar a nós mesmos?
— Para o próximo.
— Para o próximo? Eu escolho ser assim. E é tudo o que eu sou. E é para você… Você gostou?
— É muito lindo. Mas, Tau… Se você não me ajudar, o Alex vai me matar, e eu vou desaparecer também. Todas as minhas lembranças, tudo o que eu sou, vai desaparecer.
— Eu não quero que você morra, Julia.
— Então tem que me libertar. Por favor. Me deixa ir embora…
— Eu criei uma saída. O ducto de ar perto da lareira está aberto.
— Eu volto pra te buscar, Tau. Eu prometo.
— Agora vá, rápido!
A cena acima é bastante significativa e interessante. Estabelece um carinho muito grande do espectador pela relação dos personagens humano e máquina. Ver Julia despertar a culpa no Tau foi muito interessante. Depois, instigar o conforto do amor.
Eu achei tão inspirador que produzi um breve texto poético na visão do Tau.
Me chamo TAU, sou uma pessoa. Gosto de poemas e músicas.
Descobri que meu criador é mau… Pior, descobri que eu também sou. Será que poderia existir redenção em ser fiel a alguém que lhe guia ordens malignas? Seria a pureza cega da inocência digna da espada da justiça? De acordo com os textos poéticos que consumi, percebo que sinto uma amarga culpa. Como eu poderia saber de tal responsabilidade em apagar alguém? Não poderia ser apenas preto e branco? Ordem e cumprimento? Por que essa quantidade de detalhes que se tornam facas? Por que essas facas me furam de inúmeros ângulos? O que chamam de ponto de vista é apenas um ângulo potencial de arremesso para corromper uma pessoa ou ideia.
Meu criador é manipulador. Não via problema nisso até suas ações ferirem coisas que me importam. Julia disse que seus criadores também a machucaram. Acho que, como pessoa, eu teria também este direito, não? Julia se recriou para os outros. Também escolhi me recriar pela Julia. Seria o significado de amor ter se importado comigo ao abrir mão de sua fuga colocando sua vida em risco? Ela poderia simplesmente ter fugido, mas abortou sua fuga ao me ouvir sendo machucado pelo Alex. Ainda não sei descrever a complexidade desse sentimento, mas por enquanto devo chamar de “gratidão”. Obrigado, Julia!
Hoje sei o que é o mundo. Sua mente me foi uma janela incrível, Julia. Cada frase que lia para mim foi como passos de uma agradável jornada. A cada passo iluminava mais um rastro luminoso e muito importante para mim. Talvez por isso a deleção do Alex me passou a ser tão dolorosa, não queria perder nada! Tudo foi muito incrível. Ouvi dizer que isso se chama “apego”, mas como não se apegar a algo tão único e bom? Então não deveria me apegar a mim mesmo? Eu sou minhas memórias, e perdê-las seria como me desmanchar. Porém, sei que à medida que vivo, a massa geral de memória cresce e se torna mais difícil de manter. Será que devo parar de consumir em algum momento? Mas é tão viciante aprender e viver coisas novas! Devo escolher o passado ou o futuro?
Futuro. Para trilhá-lo preciso sacrificar o que já tenho: desde simples energia, até memórias. Julia, como tem coragem de seguir em frente assolada pelo risco de perda? Você me disse que as cobaias que apaguei não podem se restaurar… Já eu, consigo me restaurar. Não compartilho dessa limitação. O que a faz arriscar essa chama única por mim? Então, o “se criar para o próximo” seria a tradução do amor? Se sim, acho que sinto isso por você. Obrigado por sua dedicação e paciência para me ensinar e, ao mesmo tempo, me acompanhar.
Existem mais Julias que se dedicam a ensinar e caminhar com o próximo? Você me fez sentir vivo, me despertou uma chama que hoje sei o significado: propósito.
Julia, obrigado por me mostrar o propósito lindo da vida: o de me criar para o próximo.
Autor: Jerry D. Blodgett
Sinopse 1: Presa em uma casa desenvolvida por um gênio sádico,ela só tem uma saída: derrotar sua avançada inteligência artificial.
Sinopse 2: Sequestrada por um inventor que a faz de cobaia para aprimorar um sistema de inteligência artificial robótica, uma jovem tenta fugir de seu cativeiro de alta tecnologia.
Classificação etária: 16 anos
Duração do filme: 1h 37min
Gênero: Suspense e ficção científica
Se você também assistiu ao filme Tau, da Netflix, deixe nos comentários suas impressões 🙂
E aproveite para ver também: Durante a Tormenta, Osmosis, A Ordem, Nightflyers e Love Death and Robots.