Todos os clichês das comédias românticas chegam com tudo neste novo filme Netflix Megarrromântico (sim, com três “R”). E, quando falo de clichês, não estou falando num sentido ruim, afinal esta é exatamente a intenção desta comédia romântica: brincar com os clichês do gênero (assista aqui).
Mas este filme tem um pequeno diferencial que o torna bem interessante: aqui, a protagonista Natalie tem consciência de estar dentro de uma comédia romântica. Inclusive, ela acaba identificando diversos clichês, e gerando momentos cômicos onde nós temos a vontade de dizer a ela: “Pois é, te entendo”.
Indice
A história já começa com a trilha sonora de um dos maiores filmes de comédia romântica de todos os tempos “Preety Woman”, de Roy Orbison (do filme “Uma Linda Mulher”). Vemos uma garotinha sonhadora, grudada à televisão, admirando cheia de suspiros uma Julia Roberts mais jovem contracenando com seu par.
Logo de início vemos que Natalie, a protagonista de Megarrromântico, amava comédias românticas, e sonhava ter uma história semelhante. No mesmo instante, sua mãe a desilude, dizendo ela que “como elas” não poderiam ter uma história assim, que seria triste demais.
Após essa apresentação da protagonista, as coisas “pra valer” começam a acontecer no filme Megarrromântico. Após um assalto (por um cara que fingiu flertar com ela, reforçando a crença de que “o amor não existe”), Natalie bate a cabeça e acorda numa realidade paralela. Tudo ali é perfeito, limpo, cheiroso, e funciona nos eixos como um relógio. E isso é realmente algo que nos faz pensar “puxa, em comédias românticas é assim mesmo”. As ruas (e hospitais) sempre estão impecáveis, as protagonistas sempre se vestem bem, os cabelos sempre estão arrumados quando elas acordam (e estão maquiadas), e todas essas coisas vão acontecendo com Natalie, em uma sequência que a deixa assustada.
Um filme que tem semelhança com Megarrromântico é “Eu não Sou um Homem Fácil“, onde um acidente semelhante ao de Natalie leva um protagonista machista a um universo paralelo dominado pelo matriarcado (dominado pelas mulheres).
Lembra o que falei mais acima, sobre as advertências da mãe de Natalie, alegando que filmes de comédia romântica são uma bobagem e que mulheres como elas nunca poderiam viver uma história feliz assim?
O maior vilão nisso tudo é a mídia, sempre veiculando fotos e vídeos de modelos magérrimas e “com tudo em cima”, como se aquele fosse o único modo de beleza existente. E sabe o que é pior? A maioria das pessoas (homens e mulheres) acabam comprando essa ideia e acreditando verdadeiramente nisso. Acham que beleza tem a ver com cor, peso, tipo de cabelo, moda, e tudo mais.
Não estou tentando partir para aquele velho ditado sobre “nos atermos à beleza interior” (embora isso seja muito importante). Estou falando de beleza exterior mesmo, a beleza física da qual muitos desviam os olhos. Falo de parar de ouvir as regras de que “para ser bonito, tem que ser assim”, e começar a perceber que existem muitas formas de beleza, não importa o biotipo da pessoa (inclusive, Rebel Wilson, que faz Natalie, é uma atriz plus size realmente linda, cheia de charme, talento, “sex appeal”, e frequentemente transmite mensagens sobre aceitação do corpo).
O cinema já vem há um tempo investindo em (poucas) histórias que valorizam essa beleza fora dos padrões. Um exemplo das antigas é “O Amor é Cego”, de 2001. E a própria Netflix lançou recentemente o filme Dumplin’, que é um presente para o catálogo, pois traz uma mensagem bem semelhante a Megarrromântico: ensina sobre amar a si mesmo, e enxergar não somente a tal “beleza interior”, mas reconhecer que as pessoas são lindas como são (diferente do que prega Insatiable, que mostra que precisa mudar o corpo e entrar nos padrões para “vencer”). Quando começamos a nos amar, passamos a nos cuidar melhor. E este pequeno detalhe (a postura perante nós mesmos e perante os outros) acaba fazendo com que algo que estava apagado por puro autodesprezo ganhe luz.
Se o filme Netflix Megarrromântico tem algo a nos ensinar, é isso: amarmos a nós mesmos, do jeito que somos, e aprendermos a cuidar da dádiva de corpo que temos, independente da cor, forma, altura, detalhes e defeitos. Afinal, não somos bolinhos para termos uma fôrma. Somos seres humanos, todos diferentes entre si, e a beleza está exatamente nestes detalhes que nos diferem uns dos outros. A beleza está em nosso amor próprio, na forma como nos portamos diante do mundo e de nós mesmos.
Quando começarmos a nos amar, quando começarmos a enxergar a beleza que há em nós mesmos, aí sim o mundo poderá ver isso também (e se não verem, o que importa é que você se sinta bem, sem querer agradar os outros).
Depois disso tudo, eu gostaria de recomendar o dorama chinês, também da Netflix, chamado Paixão Imprevista. É cheio de clichês, mas fala basicamente sobre essa quebra nos padrões de beleza. Depois conta pra gente o que achou ali nos comentários!
Recomendamos também Amizade Dolorida, uma série que quebra muitos padrões do senso comum.
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Sinopse Netflix: Após bater a cabeça, uma arquiteta com horror a sentimentalidades vê sua vida se transformar em uma comédia romântica cafona e cheia de clichês.
Duração: 1h 28min;
Classificação etária: 12 anos;
Ano de lançamento: 2019;