O quão maravilhado você ficou com as cenas e a produção do filme longa metragem da Netflix, Mogli Entre Dois Mundos? Bom, eu realmente fiquei com os olhos brilhando.
Fui uma daquelas crianças que cresceu vendo animações Disney, e apesar de saber que a produção Netflix Mogli Entre Dois Mundos foi baseada no livro de Rudyard Kipling (publicado em 1894), a única referência que eu tinha de Mogli era essa versão de 1967:
Apesar de ser uma animação legal para passar o tempo, eu nunca me apeguei a Mogli da mesma forma que me apeguei a outros personagens Disney (A Bela e a Fera, Aladdin, O Rei Leão, etc). Mogli era, até então, apenas um moleque que morava na selva, meio sem sal e sem açúcar. Insípido e sem graça.
Para quem ainda não viu o filme Netflix Mogli Entre Dois Mundos, recomendo que leia essa resenha SEM spoilers, porque o que verá abaixo poderá quebrar certas surpresas (mesmo que você ache que já conheça a história).
E para conhecer AS MÚSICAS DO FILME Mogli Netflix, veja a seção mais abaixo.
Indice
Estamos numa era propícia para adaptações, visto que a tecnologia da computação gráfica permite que animais realistas sejam criados sem aquele desconforto da mistura do atores reais com um animatronic desengonçado.
A Disney apostou nisso recentemente, fazendo um remake em Live Action de Mogli O Menino Lobo. A versão ficou muito boa, mas era basicamente uma reprodução fiel da animação, inclusive com algumas músicas que ficaram bastante conhecidas na versão animada.
Nada de errado com isso, porém ao fazer réplicas fiéis (ou quase), os roteiristas perdem um pouco da liberdade em dar uma densidade um pouco maior aos personagens ou aos acontecimentos, como um todo. Afinal, as versões anteriores tinham a classificação etária livre, ou seja: eram suaves e divertidas, perfeitas para serem assistidas junto a crianças pequenas.
Nesta produção Netflix de Mogli Entre Dois Mundos essa leveza dos fatos não acontece. Como o filme não foi baseado na animação Disney, e sim na versão original “Os livros da Selva”, aquela ingenuidade que conhecíamos foi deixada para trás. Tanto as expressões dos personagens como a seriedade dada aos eventos ditam o tom, aqui.
Desta vez, não vemos mais uma criança se divertindo com um urso na selva, nem se metendo em “altas confusões com uma turma do barulho”. Mas sim, um jovem pré-adolescente que sofre com a rejeição daqueles que considera seus iguais, e que precisa desesperadamente aprender as regras da selva para não ser deixado para trás (como é o exemplo da corrida dos lobos, responsável por causar a expulsão de Mogli da matilha e, consequentemente, de seu lar).
Para conhecer AS MÚSICAS DO FILME Mogli Netflix, veja a seção mais abaixo.
É impossível não fazer comparações: a Kaa da animação Disney era desajeitada, não muito inteligente, e seu único lado místico era a habilidade de hipnotizar suas presas antes de devorá-las. Aliás, na versão Netflix Mogli Entre Dois Mundos Kaa não quer devorar o “filhote de homem”, mas sim observá-lo e ver do que ele será capaz, já que ela afirma que o futuro dele é incerto.
Apesar de Kaa ser evidentemente perigosa (e temida por todos, inclusive o tigre Shere Khan), ela não tem a mesma maldade despropositada das produções anteriores. Mesmo ela não sendo uma personagem que aparece muito, sua presença impõe um respeito que é sentido por todos nós.
O interessante de Mogli Entre Dois Mundos é que um dos temas mais tratados é a questão do “pertencer”. A que lugar ele pertence? Quem é ele? Nós sabemos essa resposta, mas dentro de Mogli existe um conflito que fica bem perceptível no longa.
Mogli está numa idade em que as perguntas complicadas da vida começam a surgir. É quando nossa identidade é formada. Ele tenta se igualar a quem está à sua volta, mas no fundo percebe que nunca será possível ser como eles. Tanto Mogli quanto Bhoot, o lobo albino, sofrem o bullying dos outros lobos, e isso acontece apenas por serem diferentes.
Talvez muitos de nós nos identifiquemos com Mogli e Bhoot no que se refere à estranheza de estarmos no lugar errado. Apesar de ele afirmar categoricamente que era um lobo e que a floresta era seu lar, vivia fazendo pequenas coisas relacionadas aos humanos (como a cena em que ele representa a navegação no rio com folhas) e observando-os. Não fica explícito o fato de ele se questionar, mas o olhar de Mogli para a ladeia foi o bastante para compreendermos isso. Afinal, o sentimento de “pertencer a um lugar” é universal.
Apesar de ter sido Bagheera quem revelou a Mogli que ele era um “filhote de homem”, é provável que o garoto já sentisse isso em seu âmago. E então, vem o momento em que ele é expulso da floresta e vai viver com seus iguais. Ali ele descobre como os humanos podem ser estranhos, curiosos, gentis, e… cruéis.
Mogli, apesar de conseguir fazer parte daquele povoado, não tem como ignorar a maldade do caçador (e seu mentor) ao ver a cabeça de Bhoot cruelmente empalhada, e também a presa do elefante que foi arrancada como se fosse um troféu. Neste momento lembramos que o último contato dele com Bhoot, o lobo albino, foi quando discutiram. E Mogli sequer teve a chance de revê-lo para pedir desculpas.
O momento final de Mogli Entre Dois Mundos é quando ele se reconhece nas sábias palavras de Kaa: Nem lobo, nem homem e, ao mesmo tempo, ambos. Ele ajuda o povoado ao mesmo tempo em que salva sua matilha do domínio de Shere Khan, e com isso ganha o respeito dos animais da selva e principalmente de Akela, o líder dos lobos.
Percebemos, pelas cenas finais da luta de Mogli com Shere Khan, que as pessoas do vilarejo assistiram a tudo: eles viram Mogli enfrentando o tigre e liderando os animais da floresta para ajudá-lo. Fora isso, o povo da vila não foi mais mostrado, e isso me deu a sensação de que algo ficou faltando… O que eu gostaria de ter visto era uma espécie de reconhecimento, já que ninguém ali sabia de fato quem era Mogli (pois não falavam a mesma língua).
Ao vê-lo lidando com todos aqueles animais, entenderiam que ele era como um líder da selva (o que era verdade, já que ele havia acabado de tomar o lugar de Akela). Mesmo que o filme tenha deixado implícito que os humanos notaram isso, o ato de mostrar-nos seria crucial para uma emoção final.
Apesar disso, o filme Netflix Mogli Entre Dois Mundos não perdeu a força, e serviu para tomar o lugar de todos os outros como uma nova referência da história do menino lobo.
Em 1893 Rudyard Kipling começou a lançar alguns contos em revistas, geralmente acompanhados de ilustrações feitas por seu próprio pai. De todos os contos que lançou, os três primeiros falam de Mogli O Menino Lobo. Somente no ano seguinte é que os contos foram reunidos em um volume chamado “Os Livros da Selva”.
Recentemente, a Editora Zahar relançou o livro com as ilustrações originais de 1893, e também contendo comentários de curiosidades sobre a obra. Recomendamos que dê uma olhada, pois conhecer as fontes originais de histórias clássicas sempre nos dá uma visão mais abrangente das coisas, além de argumentos contundentes para embasar nossas teorias e opiniões.
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Como era de se esperar, Mogli Entre Dois Mundos tem uma trilha sonora de encher os ouvidos, e de acelerar as batidas do coração.
É daqueles álbuns que vale a pena tocar e ouvir de olhos fechados, permitindo-se deixar levar e esquecer por um momento das atribulações da rotina.
Acesse aqui o álbum do Spotify de Mogli Netflix Entre Dois Mundos e coloque em sua playlist para escutar sempre que quiser!
Sinopse 1: Dividido entre dois mundos, ele está em uma busca para descobrir quem realmente é – e o herói que está para se tornar.
Sinopse 2: Criado por animais no coração da selva, um garoto órfão confronta poderosos inimigos e suas próprias origens na jornada para descobrir o seu lugar no mundo.
Duração: 1h 44min;
Classificação etária: 12 anos;
Ano de lançamento: 2018;