Tenho vários pontos a mostrar sobre os possíveis verdadeiros motivos por detrás de simples ações de pessoas que culpam os games e descarregam seu ódio em cima deles. A tirinha abaixo que fizemos me inspirou a escrever este post:
Indice
O primeiro motivo é um vasto terreno difícil de pisar. Pegando primeiro o exemplo da mãe do Jota (na tirinha acima), percebemos que é claramente uma pessoa infectada com muito medo do desconhecido, regada pela confiança do que outros falam a ela, seja TV, amigas, telejornais, novelas, etc. Precisa visceralmente se manter em seu meio conhecido.
Ela se vê em uma encruzilhada, e só lhe resta jogar pedras de longe, pois seu preconceito enraizado de que “videogame é coisa de criança” acaba gerando uma vergonha de sequer tentar dar uma chance à experiência. Se estiver em um estado de evolução superior, consegue superar esse primeiro preconceito (que foi estereotipado por décadas). Porém, o próximo passo na entrada de uma mera degustação para uma verdadeira jornada gamer é devastador.
Eis que aparece o monstro da frustração…
Pessoas orgulhosas em geral odeiam se esforçar por algo e se sentirem incompetentes caso falhem. A curva de aprendizagem motora e teórica sobre o universo do jogo é extremamente frustrante para alguém que nunca teve contato nenhum com esta mídia. Tem game que até para quem jogou a vida toda oferece um tremendo desafio para poder ingressar bem. O curioso é que estas opções com curva de aprendizado bem grande e cansativas acabam sendo os mais imersivos (depois que se aprende como jogar).
Conheço muita gente na faixa acima dos 45 que são extremamente orgulhosos e não querem ferir sua autoconfiança com frustrações (ilusão essa que sustenta o orgulho). Afinal, não há criticas mais severas que a nossa sobre nós mesmos, não é? Quem tem ego muito inflado costuma se criticar muito e criticar também aos outros, por isso a frustração dói tanto. Uma forma de escapar é continuar o movimento de translação sobre o centro de tudo, onde se sente seguro em saber fazer, e continuar vivendo uma ilusão sobre quem é. A consequência é a constante mania em culpar tudo aquilo que se possui pouco conhecimento, entrando no tão querido terreno do conforto da ignorância (a famosa zona de conforto).
Pensar cansa. Todos querem soluções prontas, principalmente se o que você precisa vier de alguma autoridade no assunto. Necessitamos de regras e limites para caminhar com segurança, e as pegamos do mundo e repassamos um para o outro. Em qual deus acreditar? O que é certo? O que é errado?
A religião é um exemplo de formas de importar um sistema completo de crenças já pensadas. O correto seria cada ser humano ir estudando o que determinada religião oferece de bom para sua vida, e desconfiar das regras impostas e das coisas usadas para manipulação. Mas em vez disso, muitos querem que o líder religioso diga, como se fosse um oráculo, o que lhe é melhor – seja bom ou ruim. A confiança em autoridades é um ponto cego seguro, uma forma de se abster da culpa em errar.
É alarmante ver que essa propensão em delegar está presente em todos os seres humanos, e são raros os que conseguem resistir essa hipnose natural de autoridades.
A mente não consegue perceber o erro da sentença, e foca apenas em resgatar a resposta rápida. Nesta questão específica, sabe onde está o problema? É que a Arca não é de Moisés, e sim de Noé. Mas como ambos estão na mesma categoria (a religiosa) a mente acaba aceitando. É um exemplo simples de atalho, e de como temos falhas cognitivas.
Mas, voltando à ignorância, ela é sempre o tapete macio onde se pode depositar tranquilidade. Se já tem uma conclusão de algo complexo, é só se deitar sobre ela e fechar os olhos. Não precisa ser discutido, nem há interesse em conhecer, pois talvez iria se tornar complexo demais.
E se eu descer demais na toca do coelho e me perder na complexidade? E se ninguém me ajudar com alguma ponderação? Tudo só para eu resolver? Deixa quieto, vou esperar alguém da TV descobrir. Enquanto isso, é só eu replicar o que todo mundo diz. Afinal não tem como tantas pessoas estarem erradas ao mesmo tempo.
Será mesmo que a multidão está tão certa assim? O potencial de se propagar a ignorância é muito maior que a verdade.
O sistema da sociedade se sente profundamente ameaçado por indivíduos que extrapolam limites, por isso tende a ser tão controladora quanto à coisas que libertem demais do senso comum. Dois exemplos são as drogas e videogame. Coloco videogame na mesma categoria de drogas porque o estado que uma pessoa é capaz de chegar pode ser tão intenso que supera até necessidade em se alimentar, dormir e tomar banho. Consequências que a droga tende a atingir também.
O flow pode ser tão intenso que já vi pessoas curarem febre jogando em vez de descansar. Deixo um vídeo abaixo sobre flow que pode ser bem interessante:
As pessoas que possuem domínio da jogabilidade passam para um estado de êxtase onde sente um mergulho (quase uma hipnose) para uma realidade alternativa onde seu corpo some. Não sobra atenção nenhuma para ele, por isso nem sente fome, sono ou qualquer outra necessidade. E este estado só pode ser encontrado quando suas habilidades se encontram acima da média e a dificuldade é elevada. Por este motivo, quem não joga não entende o quão profundo pode chegar e se incomoda muito quando seu filho ou filha apresenta muito desse comportamento intenso e alheio à realidade.
É plausível ver um pai ou uma mãe passar a odiar os games sempre que vê sua prole ignorar ordens ou necessidades básicas. Sentir a dependência em só querer jogo e a infelicidade quando são arrastados para longe do meio eletrônico faz a preocupação aflorar, e querer acreditar em todos os outros pais que passam pelo mesmo e que amaldiçoam os jogos.
É claro que videogame influencia algumas coisas, e o vício pode sim ser um problema em alguns casos. Mas aqui estou só abordando os motivos que levam pessoas a terem ódio por games apenas.
O problema maior é esquecer como tudo influencia e subestimar os conteúdos livres da TV aberta, os filmes, reality shows e livros, vindo a focar o ódio da influência apenas em games. Tudo exige bom senso.
Este assunto está longe de ter sido esgotado. Existem ainda muitos outros motivos, mas deixarei para um outro post.
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