No filme Para o que Der e Vier (disponível atualmente na Netflix) uma personagem disse “A vida não resiste ao pensamento“, e pareceu fazer tanto sentido!
Ansiedade é a inquietação com o presente, uma negação do momento. Uma enorme fome de controle temporal que vem acompanhada com a certeza de sua incapacidade. Um apetite voraz para um desinfortunado sem boca.
(a partir daqui você encontrará spoilers do filme)
O filme Para o que Der e Vier termina com uma sensação de solidão e indignação para o personagem de Ben Baker quando ele aparenta estar bem triste ao ajudar sua vizinha a tirar o filho do carrinho para colocá-lo no cavalo de brinquedo. A moça, mãe do garoto, é um possível par romântico que poderíamos imaginar para seu futuro. Assim que ativa o cavalo mecânico ele observa algo que ele repudiava: vê um cavalo na chuva carregando uma pessoa que está protegida na carroça.
Foi insistido muito que Ben tomasse seus remédios. Lembrei do filme O Doador de Memórias, onde as pessoas precisavam tomar remédios para suprimir sentimentos e assim conseguir viver numa sociedade organizada e controlada. Talvez o motivo de tantos filmes que colocam o diferente como loucura seja uma intenção inconsciente de “evangelizar” a ideia de que o certo é ser igual (além do que, isso ajuda a indústria com os lucros).
Como diz a musica do Engenheiros do Havaí: “Todos iguais, mas um mais iguais que os outros“.
Mesmo com o protagonista sendo radical e irredutível, ele acabou considerando a ideia de tomar seus remédios. O que fez ele mudar de atitude foi um único instante com a pessoa certa.
Indice
Logo depois de Ben ter um uma briga, foi obrigado a ver um médico. Veja a cena a seguir, que acontece na sala de espera do consultório:
O motivo pelo qual o protagonista se sensibilizou com o que o garoto disse é porque era a pessoa certa.
Como assim, “a pessoa certa?“. Acontece que Ben se via excluído da sociedade por não se enquadrar no que se esperava dele, e com isso suas verdades eram taxadas como loucura. Porém, para ele eram verdades.
Quando o menino afirma que “Deus quer que você tome remédio“, Ben tem um motivo forte para que aquelas poucas palavras batam fundo para que ele se renda à sua teimosia e ego por considerar ter sido mesmo Deus falando com ele.
Às vezes, se entregar a uma fé gera uma onda de calmaria e conforto.
Há momentos em nossa vida (principalmente logo após uma mudança drástica em nossos princípios) que parece que nada faz sentido.
Quando perguntam a Ben se o livro que está lendo é bom, a resposta é a seguinte:
“Cheio de detalhes bizarros e bobagens esquisitas. Não sou eu. Na verdade, era eu… É o que torna tão deprimente, e agora é apenas isso: inacabado, sem foco, impiedoso! Sou um cara no deserto correndo para uma miragem. Ainda estou com sede, minha boca está cheia de areia”.
Veja, no vídeo abaixo, a cena completa para que possamos prosseguir com a análise:
Neste momento ele se encontra perdido e desolado. É uma reação de quando alguém escolhe abandonar suas antigas bases e crenças, e se paralisa sem saber para onde ir.
Sua jovem madrasta viúva é uma peça chave para dar o apoio necessário para prosseguir. Tudo que foi dito entre eles (seguido do ato sexual de aceitação) o fez sentir vivo.
Isso nos faz pensar: o que somos? Por que não há caminhos certos, e sim só relativos? Afinal, com esses ajustes o Ben do filme Para o Que Der e Vier só mudou de ser instável para um morto-vivo triste e sem a energia da alegria.
Queremos o futuro e abraçamos a ansiedade, talvez porque não aceitemos a instabilidade natural de todo e qualquer momento. Esta esteira incessante do tempo presente que nos exige decisão e degustação é rápida demais para se fazer algo com segurança total.
Como Ben comentou, na cena do vídeo mais acima, ele mandou todo seu tempo para baixo sem sequer sentir o gosto. Por isso a nostalgia é tão adorável: a degustação acontece revivendo o passado. Todo ser humano da Terra vai sentir culpa em algum momento ao perceber que perdeu tempo com algo fútil, ou mesmo que deixou passar experiencias incríveis apenas por não terem sido devidamente degustadas na ocasião.
Viver é uma onda constante e implacável. Já o monstro da ansiedade, essa sim sempre irá nos assolar enquanto seres humanos.
Ben me mostrou o quanto ambos os lados de uma moeda são duros. Ninguém se resolve por completo só mudando da água para o vinho. Todo caminho tem suas arestas a se aparar e suas dores a serem superadas.
De qualquer forma, filmes sempre mostram muitas coisas valiosas.
Sinopse 1: Dois amigos aprendem uma valiosa lição: nada como uma fortuna milionária para trazer à tona o pior das pessoas.
Sinopse 2: Ao descobrir que seu pai faleceu, o infantil, drogado e bipolar Ben leva seu melhor amigo para a fazenda da família que ficou como sua herança.
Duração: 1h 54min;
Classificação etária: 16anos;
Ano de lançamento: 2013;
Gênero: Comédia, Drama;
Direção: Matthew Weiner;
E você, se considera uma pessoa ansiosa? Se identificou com as palavras deste texto?
Agora é sua vez: conte para nós o que achou do filme Para o Que Der e Vier! Deixe nos comentários suas impressões e o que você conseguiu tirar do filme.