Longas e Curta-metragens

Rilakkuma e Kaoru Netflix: Crítica e Teoria de loucura (2019)

Rilakkuma e Kaoru é o primeiro stop-motion em estilo anime original da Netflix, e foi lançado na plataforma em 19 de Abril. Conta a história de Kaoru, uma mulher adulta com uma vida comum, em um trabalho comum, mas com seus amigos de pelúcia que sempre esperam por ela em casa e fazem com que sua vida seja mais feliz (assista aqui).

Composto por 13 episódios bem curtinhos, o tempo total de série dá pouco mais de 2h, podendo ser rapidamente maratonado. Entretanto, apesar de seu estilo infantil, a animação Netflix Rilakkuma e Kaoru não é indicado para crianças menores de 10 anos. E, cá entre nós, talvez devesse ser para maiores de 14, devido a sua densidade emocional.

Mensagem ao coração adulto

Rilakkuma e Kaoru é uma animação cujo público-alvo é a família como um todo. Nem tanto para criança, nem tanto para adultos. Ademais, o clima que envolve cada um dos episódios é de uma tranquilidade ímpar, e mesmo os momentos mais tensos tem lá sua calmaria (como o episódio em que Rilakkuma foi raptado pelo vizinho para jogar videogame, e o preço de resgate eram panquecas com mel).

Apesar da leveza com que os assuntos são tratados, Rilakkuma e Kaoru traz uma certa melancolia atrelada a cada um de seus 13 episódios. Essa melancolia é devido ao teor intimista com que adentramos os pensamentos de Kaoru, que é uma adulta vendo a vida passar sem tomar nenhuma atitude quanto a isso. E o motivo de isso ser melancólico é que a maioria das pessoas que assistirem vão se identificar com esse sentimento, quase de vazio e abandono.

Para se ter uma noção melhor, veja o que a própria protagonista da animação Netflix Rilakkuma e Kaoru fala em um dos episódios, quando está vendo preços de animais de estimação em uma loja:

“Se seres humanos tivessem um preço, quanto será que eu custaria? Eu não tenho nenhum valor… Sou apenas uma existência insignificante que não tem seu próprio lugar nesse infinito que é a vida”.

Um pensamento bem denso, não acha? É por isso que falei mais acima que não acho recomendado para crianças. Este tipo de questionamento da vida pode ser prejudicial em um idade tão tenra, quando a personalidade ainda está se moldando.

 

É claro que a série não tem esse drama o tempo todo, mas é algo que notei ao longo de alguns episódios. Parece que ver o dia a dia pacato de uma pessoa comum coloca diante de nós um espelho, forçando-nos a olhar para dentro. Para nossos corações.

Teoria de Rilakkuma e Kaoru: Seriam os ursos apenas imaginação?

É possível formar a teoria de que Rilakkuma (o urso marrom), Korilakkuma (o urso branco) e Kiiroitori (o pássaro amarelo) sejam apenas bichinhos de pelúcia comuns que ganharam “vida” somente na imaginação da protagonista Kaoru.

Estou embasando esta teoria no fato de que não vemos mais nenhum outro urso andando por aí, ou seja, não é uma forma de vida comum por aquelas bandas. Se fosse, a animação Netflix Rilakkuma e Kaoru iria mostrar outros ursos semelhantes aparecendo vez ou outra pela rua, ou qualquer coisa semelhante. Mas os amigos de Kaoru são os únicos, e ninguém parece se assustar (tanto) ao ver dois ursos caminhando normalmente (não que eles saiam com frequência – o que já é outra base para essa teoria, pois estão sempre na casa de Kaoru onde ninguém pode contestar a existência deles – mas quando saem, não causam o alvoroço que ursos reais causariam).

Outra prova é num dos episódios, quando conhecemos o vizinho de Kaoru, em que ela recebe um aviso (escrito por mãos infantis) na porta: é proibido animais de estimação. Então ela olha para eles e pergunta “Vocês são animais de estimação?“, e eles negam. A conclusão que se chega a isso, depois de pensar, é que eles são de pelúcia, e por isso o dono (ou síndico) do prédio não a repreendeu. Se um apartamento não permite animais comuns como gato e cachorro, que dirá dois ursos. Essa lógica nos leva à conclusão de que eles são de pelúcia.

Também é possível chegar a essa conclusão devido ao fato de Kaoru ser uma mulher solteira, solitária e de baixa auto-estima. Ela mesma disse que suas amigas de faculdade foram pouco a pouco arranjando namorados, filhos, ou indo para trabalhos que as ocupavam durante os finais de semana.

No episódio “O Primeiro Dia” de Rilakkuma e Kaoru, do flashback da vida de Kaoru, vemos como ela desejava ter um animal de estimação (mais especificamente, um gato). Ela já tinha o pássaro Kiiroitori, mas ele ficava sempre numa gaiola.

Quando Kaoru estava vendo preços de gatos, teve um lapso de sua consciência em que caía num buraco e afundava num oceano escuro (em simbologia, água significa sentimentos). Essa cena é a mesma em que ela fala aquilo sobre não ter nenhum valor (que comentei anteriormente). Depois disso, Kaoru desperta do devaneio dizendo “Que loucura”. Após isso, ela volta para casa onde encontra pela primeira vez o urso marrom. E nunca ficamos sabendo de onde ele veio.

Neste episódio de Rilakkuma e Kaoru não sabemos o que aconteceu do momento em que ela saiu da frente da loja até chegar em casa. Ou seja, é perfeitamente possível que Kaoru tenha ido a uma loja de pelúcias e comprado algo por impulso. Por já estar em um estado de consciência alterado (sentindo-se um lixo, etc) ver as pelúcias como seres vivos não foi difícil para ela, já que trazia certo aconchego.

E Kiiroitori, que antes era apenas um pássaro que não fazia nada, de repente aprende a fazer panquecas e a limpar a casa. Ao observarmos outros animais da animação (que quase não aparecem), vemos que todos agem como simples animais, sem habilidades incríveis, nem nada do tipo. Os bichinhos de Kaoru são os únicos. Seria Kaoru uma sortuda por ter dois ursos e um pássaro tão inteligente, que sabem até cozinhar, ou será que ela começou a ter alucinações a partir daquele lapso diante da loja de animais?

Se forçarmos essa ideia, ela até que se encaixa bem. Inclusive, o vizinho com pais ausentes (o garoto chamado Tokio) pode estar colaborando com essa “loucura” ao conversar com as pelúcias como se elas realmente estivessem vivas.

 

Bom, essa teoria sobre Rilakkuma e Kaoru é meio sombria, sei disso. E já afirmo que não passam de meras ideias que surgiram em minha cabeça por acaso. Como trabalho criando histórias, é inevitável que este tipo de teoria dê as caras vez por outra em minha cabeça. E achei legal compartilhar com vocês 🙂 Inclusive, te convido a conhecer meus livros (alguns são de leitura gratuita).

Para aliviar seu coração, afirmo que Rilakkuma e Kaoru é um trabalho feito para famílias, e por este motivo é pouco provável que Kaoru esteja de fato alucinando. Na animação Netflix Rilakkuma e Kaoru os animais de fato têm aparência de pelúcias. Prova disso é no episódio 12, quando vemos gatos de rua e gatos à venda, todos com a mesma aparência de feltro.

(mas na sinopse da Netflix fala que ela mora com um “ursos de brinquedo“, né… Ok, parei, hehehe)

Teorias de filmes e séries muitas vezes servem apenas para uma diversão extra, e mexer um pouco com nossa imaginação (tem diversas aqui, caso se interesse). Eu gostaria também de saber sua opinião sobre isso. Deixe nos comentários. 😉

Curiosidade sobre Stop-Motion

Como falei no início deste artigo, a série Rilakkuma e Kaoru é o primeiro stop-motion em estilo anime original Netflix. Mas, o que é stop-motion?

Stop-motion é uma sequencia de fotografias que, passadas rapidamente, ganham movimento. É claro que um vídeo originalmente é de fato uma sequencia de fotos passadas muito rapidamente (quem conhece um projetor antigo, sabe do que estou falando). Mas o stop-motion consiste em fazer isso de forma a deixar o quadro a quadro bem explícito.

 

Projetor de cinema antigo

Veja abaixo alguns exemplos de stop-motion em formato GIF:

Você encontra mais destes duendes de crochê no Instagram Mochimochi.

É possível que, antes de Rilakkuma e Kaoru, você já tenha visto algum stop-motion antes (A Fuga das Galinhas, A Noiva Cadáver, O Estranho Mundo de Jack, Coraline, etc). Este estilo é bem marcado por seu aspecto de movimentos “quebrados” (não fluidos).

Rilakkuma e Kaoru tem um estilo um pouco diferente, pois se utiliza da ajuda de computadores para que a movimentação seja mais natural. E o resultado é realmente muito agradável.

Veja abaixo um vídeo rápido mostrando a evolução do stop-motion através de mais de 100 anos:

Trilha sonora de Rilakkuma e Kaoru

Ao longo dos episódios da animação stop-motion Rilakkuma e Kaoru Netflix são tocadas algumas músicas.

Para você que gosta de conhecer novos sons, recomendamos acessar a playlist do Spotify de Rilakkuma e Kaoru. Lá tem diversos gêneros de músicas japonesas reunidas. Depois conta pra gente o que achou.

Aproveite para ler também as resenhas de Lunáticos, O Professor de Música, Um Homem de Sorte, Nada Santo e a 5ª temporada de Cuckoo.

Trailer e Galeria de Rilakkuma e Kaoru Netflix

Sinopse e Ficha Técnica da animação Rilakkuma e Kaoru Netflix

Sinopse Netflix: Kaoru leva um vida comum. Mas quando chega em casa ela pode contar sempre com Rilakkuma, seu adorável e preguiçoso urso de brinquedo.

Duração dos episódios: aproximadamente 10 minutos;

País de Origem: Japão

Classificação etária: 10 anos;

Ano de lançamento: 2019;

Gênero: Animação stop-motion estilo anime, Drama, Humor, Infantil;

Compartilhe
Lyan K. Levian

Lyan K. Levian é contista e romancista de histórias homoafetivas e homoeróticas, principalmente com foco no público que se denomina "fujoshi" e "fudanshi" (fãs de yaoi/boys love). Conheça os trabalhos de Lyan: www.lyanklevian.com

Ver comentarios

  • Cheguei aqui procurando críticas e análises sobre Big Fish e Begonia. Muito bom o seu. E também me interessei pelas recomendações que fez no final dele. Rilakkuma e Kaoru já entrou pra lista de interesses. Gosto muito de histórias que mantém ambígua a natureza dos elementos fantásticos.

    Continuarei de olho no seu site. Meus parabéns por ele e pela qualidade do conteúdo.

  • As vezes eu penso que os animaizinhos representam cada um uma parte da personalidade de Kaoru, coisas que ela queria preencher. Como ela gostaria que fosse a vida dela, e etc. Eles são uma representação da realidade que ela queria ter. Ela interage sendo aceita e feliz apenas com eles.

Publicado Por