Pode-se dizer que Tintim é um clássico. Lembro-me, quando eu ainda era pequena, de como meu pai esperava pelo momento em que As Aventuras de Tintim começariam na televisão. Inclusive, foi graças a ele que adquiri um gosto tão grande por desenhos e animações em geral – desde Mônica até os clássicos Disney.
Este longa de Tintim vem com produção e direção de peso: Steven Spielberg na direção e na produção ninguém menos que Peter Jackson e Kathleen Kennedy. Desde muito tempo atrás Spielberg já era visado pelo próprio criador de Tintim, Hergé, para que um dia sua obra se tornasse um filme. O próprio Spielberg chegou a conversar com o autor à respeito, mas infelizmente este último não viveu tempo o suficiente para ver este sonho realizado, já que não está mais entre nós desde 1983.
Hergé, que é um grande cartunista belga, certamente não fazia ideia – nem em seus sonhos mais ousados – de que Tintim não se tornaria apenas um longa-metragem, mas uma animação com tecnologia que sequer era possível naquela época. Acontece que “As Aventuras de Tintim – O Segredo do Licorne” foi quase inteiramente feito com captura de movimentos, o chamado mocap (motion capture). E adivinha quem foi que deu esta ideia a Spielberg? Acertou quem disse Peter Jackson (my precioussss…).
O mocap tem sido cada vez mais usado hoje em dia. Alguns críticos tem opiniões contrárias à respeito, já que afirmam que a captura de movimento tira o mérito de alguns animadores que trabalham completamente sem este recurso, e mesmo assim conseguem bons resultados. Mas aí podemos dizer que o sol brilha para todos. Eu pessoalmente achei que a captura de movimento em Tintim deixou tudo muito interessante. A verdade é que em alguns momentos é possível confundir com filmagem real, de tão perfeito que tudo está. O toque de “irrealidade”, se me permitem dizer, está no ar cartunesco que os personagens mantém: dedos grossos, narizes pontiagudos ou exageradamente grandes. É o que dá o charme na animação.
Jamie Bell, que interpretou o protagonista nas roupas de lycra que captariam seus movimentos, disse: “Teve vezes em que pensei que não conseguiria gravar mais uma tomada, mas o que ajuda é saber relevar a dor. Não sou um homem velho, mas quando você está num traje de captação de movimento e capacete, não é um ambiente muito confortável“.
É importante termos a consciência de que por trás de todos aqueles personagens irreais existe uma pessoa de verdade que está trabalhando duro para produzir um bom resultado. Como o próprio Bell disse, não é somente a roupa desconfortável captando os movimentos do corpo, mas também um capacete desajeitado que identifica, através de pontos estrategicamente localizados, expressões faciais. E aí está uma dica para quando você for assistir As Aventuras de Tintim – O Segredo do Licorne: faça questão de notar as expressões dos personagens, pois são todas muito ricas e detalhadas. Foi uma das várias coisas que me chamou a atenção.
Outra coisa interessante é como fizeram o cãozinho Milu durante as filmagens, para que os atores olhassem para o local correto durante a captura de movimento: usaram um modelo bidimensional, preso por uma vara longa que era controlada à distância. O ator Andy Serkis também participou deste filme de Tintim (para quem não se lembra, ele interpretou Gollum em O Senhor dos Anéis, também com mocap), e brincou dizendo que temeu que Peter Jackson o quisesse como Milu no longa, mas o papel dele foi ninguém menos que o capitão Haddock. Milu, como seria de se esperar, foi criado através de computação gráfica tradicional.
Um comentário final fica por conta da trilha sonora, que é muito boa e inclusive foi indicada ao Oscar em 2011. Mas fica a minha pergunta: por que não usaram a música tão conhecida da abertura da série de Tintim? Creio que foi a única coisa que achei que ficou faltando.
Para aqueles que querem recordar, deixo abaixo o vídeo da abertura antiga de As Aventuras de Tintim.